quinta-feira, 29 de janeiro de 2015


A tristeza de um "quase"



Foi quase gol. O que não o impediu de chorar pelo time, rebaixado, desmoralizado e humilhado mais uma vez.

Debruçara-se à janela quase a tempo. Mas perdeu a mais intensa chuva de estrelas cadentes dos últimos vinte anos.

Tirara quase sete. E ainda assim, teve que trocar o videogame por boas horas de estudo para a prova de recuperação.

Chegou quase às dezesseis. O que impossibilitou que tomasse o ônibus das quinze e cinquenta e quatro.

Juntou quase um bilhão de reais. O que não foi suficiente para que fizesse parte da lista dos mais ricos do mundo pela Forbes.

Ganhara quase sete quilos. Mas ainda assim, não era gordo o suficiente para entrar na fila da cirurgia bariátrica pelo SUS.

Quase fora diagnosticado com dengue. O que não foi suficiente para que pegasse duas semaninhas de atestado médico.

Quase fora promovido. Porém, como continuara sendo estagiário, não teve condições de pagar a viagem dos sonhos para o pai em estado terminal.

Há algo mais nocivo do que um quase? Do que uma quase conquista? Do que uma quase certeza? Do que um quase amor? Viver na iminência é ter um pé na beira do abismo e não poder se jogar ao mar. É ver o trio elétrico e não poder correr atrás por causa da perna engessada. É esticar os braços para fora da janela e perceber que o trem é tão veloz que sequer os dedos se tocaram. Porque sempre que a gente quase, a gente não foi. Sempre que a gente quase, a gente não é. Sempre que a gente quase, a gente não será.

Pela primeira vez na vida, quase gozara. Mas morreu sem saber o que é ter um orgasmo.

Bruna Grotti

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Não, eu não te levo a sério


Olha, eu penso em você de vez em quando. E isso não é nenhuma confissão inimaginável. Não dá pra dizer que os teus olhos pretos e brilhantes feito duas faíscas nunca me fizeram querer voar pra perto de você. Não dá pra dizer que eu nunca quis a tua barba na minha nuca sem parecer mentira.

Na verdade, de vez em quando é bondade minha. Eu penso quase sempre. No som da sua risada e no cheiro que a sua pele deve ter depois que você se veste.

Até seus versos me deixam com o coração pequenininho e uma cara de boba que tenho vergonha de que alguém veja. Até sua risada ao telefone me desestabiliza. Você é sempre tão envolvente ou me inferniza desse jeito só por diversão?

Não me conta seus problemas. Não me diz que você tá puto ou que sente saudades. Desculpe a franqueza, mas não me interessa. Não quero conhecer teus defeitos, teus segredos, tuas profundezas. Tua superfície me satisfaz tão bem.

Porque você é essa mentira. Esse futuro do pretérito. Você é aquilo que nunca vai ser. Tem coisas que foram feitas para não ser, sabe? Fica quietinho aí. Só sorri de vez em quando pra mim e escreve umas coisas que me façam pensar em você e te querer por perto, que o querer é quase sempre mais gostoso que o conquistar. Me dá esse aperto no peito de presente, meu bem. Quem sabe um dia a gente se cruze por aí e eu te dê um oi ou te convide pro cinema, e a gente saia por aí preenchendo essas nossas eternidades que duram cinco minutos.

Nathali Macedo
"Nada dura para sempre, então viva isso, beba, ria, esqueça o drama, arrisque-se, e nunca se arrependa, porque em um ponto, tudo o que você fez, foi exatamente o que você queria."

Marilyn Monroe