sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O que desejamos quando estamos machucados


Eu entendo o que você diz.

Você deseja ser seduzida, admirada, está exausta de fazer esse trabalho.

Não pretende ser simpática, carinhosa, receptiva. Não pretende nada, farta de tentar, de ir atrás, de se arrepender, de amar por dois.

Você deseja não pensar agora, não tomar nenhuma decisão agora, não escolher nenhum lugar agora.

Você deseja ficar envolta em histórias para se distanciar de suas dores.

Você deseja sentir o medo chegando, o medo que é o primeiro sintoma da sinceridade.

Você deseja a tensão que só vem depois que todas as palavras foram usadas.

Você deseja a compreensão que é a vigília dos dedos em seus cabelos.

Você deseja o sexo antes do sexo, durante a escolha das frases.

Você deseja que o beijo seja apenas uma forma doce de se despedir e de se reencontrar.

Você deseja dar não apenas o seu corpo, mas o seu silêncio.

Você deseja que alguém segure seu rosto com as duas mãos, e que dê gosto para fechar os olhos em segurança.

Você deseja se ver protegida pelo ciúme, o charme do ciúme, não o coice do ciúme.

Você deseja não ter que se explicar, não ter que argumentar, não ter que provar coisa alguma.

Você deseja que o outro insista com ternura, que se prontifique a ficar perto, que assuma provisoriamente sua vida até que possa dar conta de tudo de novo.

Você deseja se sentir desejada. Como se fosse única, exclusiva.

O que mais deseja neste momento é ser insubstituível. Está cansada de tanto ver a eternidade morrer.

Você não precisa de milagres, mas de fé.

Sem fé, não tem nem como amar.



Fabrício Carpinejar

Nenhum comentário:

Postar um comentário