A ti, que sofres....
Quero-te dizer que não é para sempre.
Aceita essas palavras de alguém que andou nos teus sapatos doridos. Nas tuas roupas sem piada. Nos teus acessórios que te pesam.
Sei que te sentes sozinho(a). E estás sozinho(a).
Sei o esforço que fazes por parecer bem, só para que não te afastem… a ti e à tua tristeza incómoda. Também sei que queres estar afastado(a). Conheço toda a contradição que vai dentro de ti. Conheço todos os teus sentimentos de egoísmo, de revolta, de saudade e nostalgia. Sei que todos eles podem acontecer no espaço de meia hora, ou menos do que isso até.
Sei que hoje de manhã um novo dia raiou para ti e que até sorriste em paz, mas que ainda antes da hora de almoço já só sentias sombras outra vez. E que os dias deixaram de ter 24h e passaram a ser uma semana.
Sei das lágrimas que pões para fora quando ninguém vê. E também sei daquelas que contiveste tanto tempo e que saíram quando menos esperavas e querias.
Tudo o que te dizem é vazio, por muito boas que sejam as intenções. Pois só tu sabes. E a verdade nua e crua é esta: tu estás sozinho(a).
A dor que sentes mais ninguém pode compreender ou curar. E não podes julgar ninguém por isso. Se pensares bem, esta dor não é igual a mais nenhuma que tenhas passado. É diferente de todas as outras… porque esta… esta é de agora. E é tua. Só tu sabes.
Mas quero-te dizer que não é para sempre.
Este é o teu processo. Estás sozinho(a) nesta dor e estarás sozinho(a) no dia em que emergires dela. A vitória é tua e só de ti depende. Isola-te, mas só enquanto tiver que ser. Chora, mas só o suficiente. Perdoa, e deixa ir, mesmo que não esqueças. Rodeia-te de quem gostas, mas não exijas muito das pessoas. Sei que não parece, mas elas também têm os seus problemas. Permite-te acessos de raiva, mas não magoes ninguém. Permite-te também alguma loucura, mas não te esqueças da tua essência nem do teu caminho. E quando a impulsividade descontrolada vier, liga a alguém. Vai dar uma volta. Vai ouvir música. Espera pelo menos uma hora antes de cederes a ela… e na maioria das vezes vais recuar e poupar-te a mais dor.
Lembra-te que ninguém tem o direito de julgar a forma que encontraste de juntar os bocados que te partiram. Mas lembra-te também que algumas dessas pessoas que o fazem sabem quem és, antes e debaixo da dor, e preocupam-se com sinceridade. Ouve-os. Fala-lhes. Mas em última instância, ouve-te a ti. Tu sabes o melhor para ti. É provável que neste processo algumas pessoas ganhem mais importância para ti e que outras fiquem pelo caminho. Não lamentes. A tua limpeza interior vai refletir-se no exterior e esta também é necessária. Compreenderás isso mais tarde.
Quero-te dizer que não é para sempre.
Não vai acontecer de um dia para o outro. Talvez até nunca desapareça completamente. Mas vou garantir-te isto: os dias, a pouco e pouco, começarão a ter 24 horas novamente. Os dias, a pouco e pouco, terão mais raios de sol e cada vez menos sombras. Os dias, a pouco e pouco, deixarão de ser apenas dias. A pouco e pouco, vais começar a devolver vida aos teus dias e aos dias de outros. A reencontrar-te. A emergir.
Vais chegar ao ponto de olhar para trás e de verdadeiramente compreender e aceitar a dor onde estiveste mergulhado(a). Já não importará o que te fizeram ou o que fizeste a ti próprio(a). Foi necessário. Foi uma aprendizagem. Foi o que tinha que ser. E se lutaste pela tua felicidade, e deste o melhor que podias e tinhas na altura, nada mais podes exigir de ti... É muito importante que interiorizes isso: Tu fizeste o melhor que podias nas circunstâncias de antes.
O caminho agora é em frente. Que o sigas tranquilo(a) e mais confiante de ti e dos teus limites. E, finalmente, que sejas feliz… Não tenhas pressa no processo, mas não te demores no sofrimento inerte. Estás aqui e estás vivo(a). O mundo precisa de ti e está à tua espera.
Carla Pacheco
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